Às vésperas de sediar o 3º Congresso contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que reunirá no Rio de Janeiro representantes de 192 países, o País ainda convive com uma certa complacência ao tratar do assunto. Essa é a opinião da socióloga Graça Gadelha, consultora na área de Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes.
Segundo ela, a exploração sexual de jovens é vista de forma diferente do abuso sexual, que normalmente chama mais a atenção da sociedade.
"Costumamos ter posturas diferentes para a exploração e para o abuso. O abuso sensibiliza as pessoas, em situações intra-familiares ou não, porque normalmente os atingidos são crianças. Mas a exploração, mais ligada ao público adolescente, é associada a um ato voluntário. Parece que é uma escolha da menina, ela está ali porque quer, porque gosta", afirma.
Na opinião dela, essa postura justifica, por exemplo, o baixo número de denúncias recebidas pelo Disque 100: apenas 11% dos crimes contra crianças e adolescentes denunciados se referem à exploração sexual. A maioria dos casos levados ao conhecimento do serviço, mantido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), é de situações de negligência (37%), seguidas por violência física e psicológica (33%).
Dados coletados até o terceiro semestre deste ano apontam que, de um total de 43.387 denúncias, apenas 4.902 (11%) se referiam à exploração sexual de meninos e meninas.
"Isso é decorrente um pouco da cultura brasileira, de um modo geral, que vê a criança e o adolescente no prisma da dualidade. A criança e o adolescente que está vulnerável é sempre visto com compaixão ou medo, o que acaba sendo fruto de todo um contexto de política brasileira adotada nesse sentido.
De acordo com a socióloga, a realização do seminário no Brasil pode ajudar a impulsionar uma rede mais eficaz de proteção.
"É necessário que tenhamos uma rede melhor preparada, que esteja apta a atender diferentes demandas. Identificar quem sofre abuso ou exploração e agir de uma forma coordenada. Isso serve para os serviços de saúde, de educação", afirma.
Congresso
O 3º Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes acontece no Brasil com uma perspectiva diferente das versões passadas. Nessa edição, os principais objetivos são o combate às novas formas de exploração - pela Internet e pelo tráfico de pessoas - e também deliberar sobre a responsabilidade dos diversos segmentos da sociedade envolvidos no enfrentamento ao fenômeno.
Com o tema "A garantia de direitos da criança e do adolescente e sua proteção contra a exploração sexual - por uma visão sistêmica -, o evento se propõe a levantar a importância da temática, chamando a atenção dos governos e mobilizando articulações e políticas setoriais, junto aos representantes do legislativo, à família, à sociedade civil e ao setor privado.
Vagner Magalhães
Direto de São Paulo
Redação Terra
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI3329971-EI306,00-Sociologa+Brasil+e+tolerante+com+prostituicao+juvenil.html
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