segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Salvador, Bahia, Brasil: 55 mulheres mortas e 5 mil agredidas só este ano.



Só este ano 55 mulheres foram assassinadas por seus companheiros e mais de 5 mil sofreram algum tipo de violência doméstica, em Salvador. Os dados são alarmantes, mas, apontam, também, para um crescimento no número de denúncias. Como parte das atividades da 18ª edição da campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, foi realizada, ontem, a caminhada Por Uma Vida Sem Violência, que reuniu mais de 1 mil pessoas, no Dique do Tororó.
Apesar do ponto forte do evento ter sido a caminhada em torno do Dique, o que mais chamou atenção de quem passava pelo local, eram as 55 cruzes fixadas no gramado do parque. “Eu me arrepio toda vez que olho”, dizia Mônica Kalile, presidente da Superintendência Especial de Políticas Públicas Para as Mulheres de Salvador (SPM-Salvador), enquanto explicava. “Essas cruzes representam as mulheres mortas, dentro de casa, por seus maridos, neste ano de 2008”.
Se o número de assassinatos, conseqüentes da violência doméstica, assusta, ao que se refere às agressões, eles são ainda mais espantosos. De acordo com Kalile, só de janeiro a junho de 2008, mais de 5 mil pessoas foram violentadas. Ano passado o levantamento dá conta de 8.875 ocorrências. “Espancamento, violência sexual, cárcere privado e todo tipo de agressão”, destaca, se referindo aos tipos de mais comuns.
Para a ativista as políticas públicas de apoio às mulheres vítimas de violência têm contribuído para o aumento do número de atendimentos. “Elas se sentem mais protegidas e buscam ajuda, só depois de encontrar apoio e que criam coragem de denunciar à polícia”, diz ela, que também comemorou as criações, em outubro, da segunda Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), de Salvador, no bairro de Periperi e do primeiro Juizado Especializado em Violência Doméstica, que fica nos Barris e atende das 8 às 18 horas.
“Com isso, acreditamos que os processos vão ser concluídos com maior rapidez, impedindo que a mulher continue residindo no mesmo teto que seu companheiro e sofrendo novas agressões, o que, n?a maioria dos casos, as levam a desistir da denúncia”.



Dona-de-casa enfrenta o medo até para denunciar


Medo é uma palavra que a dona-de-casa de 45 anos, que preferiu não se identificar, conhece bem. Só depois de 22 anos de casamento e muitas agressões, verbais, físicas e sexuais, ela enfrentou o seu maior inimigo (o medo) e buscou ajuda. “Me sentia culpada por aquilo tudo, achava que não estava fazendo a coisa certa”, conta, enquanto fugia das câmeras dos repórteres. “Estou foragida, tenho medo do que ele possa fazer contra mim e meus dois filhos”.
Ela saiu de casa após a última agressão do marido, no mês passado, quando prestou queixa à polícia.
Desde sua fundação, há três anos, o Centro de Referência Loreta Valadares – unidade pertencente à SPM-SSA – já foram atendidas 15.680 mulheres violentadas. A instituição oferece, gratuitamente, atendimento psicológico, social, jurídico, além de apoio pedagógico para os filhos das vítimas. Atualmente 120 mulheres são acompanhadas e diariamente, pelo menos uma nova vítima busca ajuda no Centro.
Para a gerente do Centro, Lígia Margarida Gomes, a falta de autonomia financeira por parte de muitas mulheres ainda tem dificultado as denúncias. “Muitas querem denunciar, mas por dependerem deles, acabam suportando as agressões caladas”.
A campanha foi iniciada no último dia 20 e segue até 10 de dezembro, com realização de diversas atividades por todo Brasil. A iniciativa mobiliza, ainda, pessoas em outros 130 países. “Queremos alertar as pessoas de que é possível viver em harmonia, mas para isso temos que combater a violência”.

Por Roberta Cerqueira
TRIBUNA DA BAHIA
01/12/2008

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